No campo ilimitado da intervenção artística que o séc. XX proporcionou, vemos o jovem artista num saudável jogo exploratório, como de um pêndulo oscilante se tratasse em busca de sentido e espaço de identidade.
Dá gosto vê-lo navegando no plural labirinto da interdisciplinaridade, manipulando recursos tradicionais ou tecnologias de onde sobressai o computador num entendimento estético que o seu tempo lhe permite e lhe propõe.
Da fotomontagem dos seus auspiciosos auto-retratos gráficos ao tributo prestado à pintura antiga, numa salutar viagem de reconhecimento aos seus dilectos antepassados Bosch, Tiepolo, Géricault, e outros, em “flashbacks”, fragmentos da memória que o alimentam, sem perder neste perscrutar retrospectivo o pulsar da contemporaneidade.
Neste olhar para trás, ganha balanço para novas viagens ao sabor de uma aventura que o leva a mergulhar no plasma delirante da matéria líquida (oh! Como eu me reconheço aí também), deixando que a imaginação da matéria o deslumbre e o conduza à porta do caos sensível – esse mistério de delírios que os fluidos revelam – e aí saber parar a tempo; o que aconteceu contigo na série de trabalhos que se seguiram com as figuras recortadas, contidas e suspensas no silêncio raso da tela.
Não surpreende que uma nova investida nasça da experiência de contrários e remeta o artista para uma assumida relação com o conflito, agora já não só no plano formal, mas também no campo semântico, na série do conjunto de imagens a que chamarei paisagens foto-mecânicas e onde o “ruído” reaparece mais problemático, mercê de uma vontade de provocar, de impor objectos heteróclitos na paisagem (?) suscitando um confronto gramatical da mais complexa solução plástica.
A aventura prossegue em felizes fotocomposições em faixa contínua onde se desenrolam instantâneos arquitectónicos, anatómicos ou de design e se colam e repetem em frisos longitudinais, de um raro equilíbrio e beleza formal.
Resta-me augurar a Rui Melo um futuro promissor – não sem antes lembrar-lhe a necessidade de ciclos de silêncio e reflexão após cada etapa deste peregrinar – a fim de cimentar as propostas de um discurso estético que tantos desejam se torne constante e duradouro.